Quando eu crescer

Em que momento vocês decidiram que carreira seguiriam? Vocês lembram como essa decisão foi tomada? Ontem recebi uma mensagem que me deixou surpresa. Era de uma moça, que cursa agora o terceiro ano do ensino médio,  às voltas com essa dúvida. Mas não se tratava de uma dúvida passiva, "oi, como é fazer o que você faz?". Não, ela escreveu em missão de entrevista, entrevista muitíssimo bem direcionada. Elencou uma série de perguntas sobre minha formação, a rotina de trabalho, quanto podia esperar de uma remuneração, se eu considerava que ganhava mais ou menos o que a média dos colegas, e se não, por que? Se eu já tinha pensado em desistir, o que tinha de melhor e pior no meu fazer, em que momento do dia eu me sentia mais cansada, realizada, ou disposta, se os domingos me eram melancólicos ou esperançosos, se o retorno do mês de férias era desafiador, "você tira férias?", "todo ano?", "faz pausa nas festas de dezembro", "costuma tirar folga no seu aniversário?" O específico do específico, linhas e linhas de interrogações que se empilhavam num sem fim de dúvidas.


Embora pareça ingênuo contar com uma única opinião acerca de uma carreira – nossa, quantas maneiras há de se levar uma profissão, não é? –, a busca por um spoiller do que será o próprio futuro é um movimento lindo. Desobediente que sou, não respondi ao questionário linha por linha, como pedia minha interlocutora. Mas, encantada com o por vir da juventude, que também sou – e em altíssimo grau – escrevi em resposta um texto longo e sem filtros, sobre meus dias, os de ontem e os de hoje. E enviei assim de um fôlego só, sem segunda leitura, edição ou corte. 


Hoje quando acordei, reli meu relato e fiquei comovida. Primeiro com a coragem da menina de escrever para uma desconhecida e, no fundo, me dar um presente valiosíssimo, oferecer sua escuta. Depois, com a minha própria abertura para o outro, que – ainda bem, eu ia dizer graças a deus, mas pensei que é graças a mim mesma – continua intacta.  Talvez sejam a escuta e a abertura as duas únicas palavras que eu precisava dizer para explicar o meu fazer. Talvez tenham sido exatamente essas palavras que me fizeram apostar na psicanálise. Que bom lembrar. Boa semana queridos.